P R E Â M B U L O
Salamaleque.
Tudo que aqui é dito, não é de dominio publico - pois tal noção é absurda ; não é de direito autoral, considerando os pesares jurídicos dest'outra noção ; tampouco age em favor do autor, já que as palavras aqui a serem ditas, quando questionadas em reprovação, ou mesmo em horror, de um esgar sarcástico fulminante - "Como dizer, se eu nada escuto!?" -, escorregam e deixam que se perceba o quão metafóricas são : em verdade, vos digo que escrevi ; mas devo avisar-vos que o dizer precede tudo. Daí para o ouvir-dizer são passos mínguos, e as ocorrências dessa atitude total de vida : ou seja, o dizer o que a si foi dito ; elas culminam no ápice de seu próprio acontecimento, que é ao mesmo tempo o deslizar contemporâneo da derrocada. Exatamente! é isso o que são, as palavras : cargas-clímax de uma não-perenidade, de um acontecimento tão universal quanto sofredor da singularidade pontual - uma ponta-de-lança... e minha digressão doravante é comprida.
Eu me lançarei às liras, pois delas um mavioso canto soava, e com ele foi possível dizer coisas de que se possuía para que fossem ditas : Arquíloco (cuja denominação latina em nada perde para o khi grego,
a r q u i l o c u s.).
« ἐν δορὶ μέν μοι μᾶζα μεμαγμένη, ἐν δορὶ δ'οἶνος
Ἰσμαρικος, πίνω δ'ἐν δορὶ κεκλιμένος.
Na lança minha está o pão amassado, na lança o vinho
Ismariqueu; bebo-o, na lança apoiado. » ;
E não é esta a postura ideal do soldado, senão em hodierna companhia, ao menos em sua formação clássica, no que é considerado seu território de proliferação? Pensemos em Atenas na Batalha de Salamina (A Guerra do Peloponeso, Tucídides não encontra páreo neste evento) ; ou consideremos o exército de mil homens-1 (menos a unidade) do formidável Gêng'is Cã (a transformação de um regime nômade para um grande império estabelecido e já em decadência - para isso, As cidades invisíveis, de Italo Calvino) ; ou então as concentrações armadas e perambulantes de ajuntamentos aztecas, e maias, e tupinambás (basta ler, para os interesses brasileiros, I-Juca-Pirãma, de Gonçalves Dias [1] : « Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi. ».)
Como guerreiro samurai, que de existir é lendário - furemos o grande lagarto [2] ! Afiemos nossas consoantes, e façamos da palavra um motivo da penetração ; afundemos a palavra de uma ponta a outra. Mas sejamos capazes de senti-la atravessando-nos, tenhamos a coragem de enfrentar a lança de que dependemos para persistir em tudo ; tenhamos coragem de recebê-la na carne, como Richard Francis Burton [3]. Digamos, de peito aberto : a palavra é minha ponta-de-lança.
notas :
[1]
I
No meio das tabas de amenos verdores,Cercadas de troncos - cobertos de flores,Alteiam-se os tetos d’altiva nação ;São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,Temíveis na guerra, que em densas coortesAssombram das matas a imensa extensão.
São rudos, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor :
São todos Timbiras, guerreiros valentes !
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,
As armas quebrando, lançando-as ao rio,
O incenso aspiraram dos seus maracás :
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.
No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis :
Os velhos sentados praticam d’outrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em torno dum índio infeliz.
Quem é ? - ninguém sabe: seu nome é ignoto,
Sua tribo não diz : - de um povo remoto
Descende por certo - dum povo gentil ;
Assim lá na Grécia ao escravo insulano
Tornavam distinto do vil muçulmano
As linhas corretas do nobre perfil.
Por casos de guerra caiu prisioneiro
Nas mãos dos Timbiras : - no extenso terreiro
Assola-se o teto, que o teve em prisão ;
Convidam-se as tribos dos seus arredores,
Cuidosos se incubem do vaso das cores,
Dos vários aprestos da honrosa função.
Acerva-se a lenha da vasta fogueira
Entesa-se a corda da embira ligeira,
Adorna-se a maça com penas gentis :
A custo, entre as vagas do povo da aldeia
Caminha o Timbira, que a turba rodeia,
Garboso nas plumas de vário matiz.
Em tanto as mulheres com leda trigança,
Afeitas ao rito da bárbara usança,
índio já querem cativo acabar :
A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,
Brilhante enduape no corpo lhe cingem,
Sombreia-lhe a fronte gentil canitar,
II
Em fundos vasos d’alvacenta argila
Ferve o cauim ;
Enchem-se as copas, o prazer começa,
Reina o festim.
O prisioneiro, cuja morte anseiam,
Sentado está,
O prisioneiro, que outro sol no ocaso
Jamais verá !
A dura corda, que lhe enlaça o colo,
Mostra-lhe o fim
Da vida escura, que será mais breve
Do que o festim !
Contudo os olhos d’ignóbil pranto
Secos estão ;
Mudos os lábios não descerram queixas
Do coração.
Mas um martírio , que encobrir não pode,
Em rugas faz
A mentirosa placidez do rosto
Na fronte audaz !
Que tens, guerreiro ? Que temor te assalta
No passo horrendo ?
Honra das tabas que nascer te viram,
Folga morrendo.
Folga morrendo ; porque além dos Andes
Revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
Da fria morte.
Rasteira grama, exposta ao sol, à chuva,
Lá murcha e pende :
Somente ao tronco, que devassa os ares,
O raio ofende !
Que foi ? Tupã mandou que ele caísse,
Como viveu ;
E o caçador que o avistou prostrado
Esmoreceu !
Que temes, ó guerreiro ? Além dos Andes
Revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
Da fria morte.
III
Em larga roda de novéis guerreiros
Ledo caminha o festival Timbira,
A quem do sacrifício cabe as honras,
Na fronte o canitar sacode em ondas,
O enduape na cinta se embalança,
Na destra mão sopesa a iverapeme,
Orgulhoso e pujante. - Ao menor passo
Colar d’alvo marfim, insígnia d’honra,
Que lhe orna o colo e o peito, ruge e freme,
Como que por feitiço não sabido
Encantadas ali as almas grandes
Dos vencidos Tapuias, inda chorem
Serem glória e brasão d’imigos feros.
"Eis-me aqui", diz ao índio prisioneiro ;
"Pois que fraco, e sem tribo, e sem família,
"As nossas matas devassaste ousado,
"Morrerás morte vil da mão de um forte."
Vem a terreiro o mísero contrário ;
Do colo à cinta a muçurana desce :
"Dize-nos quem és, teus feitos canta,
"Ou se mais te apraz, defende-te." Começa
O índio, que ao redor derrama os olhos,
Com triste voz que os ânimos comove.
IV
Meu canto de morte,Guerreiros, ouvi :Sou filho das selvas,Nas selvas cresci ;Guerreiros, descendoDa tribo tupi.
Da tribo pujante,Que agora anda errantePor fado inconstante,Guerreiros, nasci ;Sou bravo, sou forte,Sou filho do Norte ;Meu canto de morte,Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas,De tribos imigas,E as duras fadigasDa guerra provei ;Nas ondas mendacesSenti pelas facesOs silvos fugacesDos ventos que amei.
Andei longes terrasLidei cruas guerras,Vaguei pelas serrasDos vis Aimoréis ;Vi lutas de bravos,Vi fortes - escravos !De estranhos ignavosCalcados aos pés.
E os campos talados,E os arcos quebrados,E os piagas coitadosJá sem maracás ;E os meigos cantores,Servindo a senhores,Que vinham traidores,Com mostras de paz.
Aos golpes do imigo,Meu último amigo,Sem lar, sem abrigoCaiu junto a mi!Com plácido rosto,Sereno e composto,O acerbo desgostoComigo sofri.
Meu pai a meu ladoJá cego e quebrado,De penas ralado,Firmava-se em mi :Nós ambos, mesquinhos,Por ínvios caminhos,Cobertos d’espinhosChegamos aqui !
O velho no entantoSofrendo já tantoDe fome e quebranto,Só qu’ria morrer !Não mais me contenho,Nas matas me embrenho,Das frechas que tenhoMe quero valer.
Então, forasteiro,Caí prisioneiroDe um troço guerreiroCom que me encontrei :O cru dessossêgoDo pai fraco e cego,Enquanto não chegoQual seja, - dizei!
Eu era o seu guiaNa noite sombria,A só alegriaQue Deus lhe deixou :Em mim se apoiava,Em mim se firmava,Em mim descansava,Que filho lhe sou.
Ao velho coitadoDe penas ralado,Já cego e quebrado,Que resta ? - Morrer.Enquanto descreveO giro tão breveDa vida que teve,Deixai-me viver !
Não vil, não ignavo,Mas forte, mas bravo,Serei vosso escravo :Aqui virei ter.Guerreiros, não coroDo pranto que choro :Se a vida deploro,Também sei morrer.
V
Soltai-o ! - diz o chefe. Pasma a turba ;Os guerreiros murmuram: mal ouviram,Nem pode nunca um chefe dar tal ordem!Brada segunda vez com voz mais alta,Afrouxam-se as prisões, a embira cede,A custo, sim ; mas cede : o estranho é salvo.- Timbira, diz o índio enternecido,Sôlto apenas dos nós que o seguravam :És um guerreiro ilustre, um grande chefe,Tu que assim do meu mal te comoveste,Nem sofres que, transposta a natureza,Com olhos onde a luz já não cintila,Chore a morte do filho o pai cansado,Que somente por seu na voz conhece.- És livre ; parte.- E voltarei.- Debalde.- Sim, voltarei, morto meu pai.- Não voltes!É bem feliz, se existe, em que não veja,Que filho tem, qual chora : és livre ; parte!- Acaso tu supões que me acobardo,Que receio morrer!- És livre ; parte!- Ora não partirei ; quero provar-teQue um filho dos Tupis vive com honra,E com honra maior, se acaso o vencem,Da morte o passo glorioso afronta.
- Mentiste, que um Tupi não chora nunca,E tu choraste!... parte; não queremosCom carne vil enfraquecer os fortes.
Sobresteve o Tupi : - arfando em ondasO rebater do coração se ouviaPrecípite. - Do rosto afogueadoGélidas bagas de suor corriam :Talvez que o assaltava um pensamento...Já não... que na enlutada fantasia,Um pesar, um martírio ao mesmo tempo,Do velho pai a moribunda imagemQuase bradar-lhe ouvia : - Ingrato! Ingrato!Curvado o colo, taciturno e frio.Espectro d’homem, penetrou no bosque!
VI
- Filho meu, onde estás- Ao vosso lado;Aqui vos trago provisões : tomai-as,As vossas fôrças restaurai perdidas,E a caminho, e já!- Tardaste muito!Não era nado o sol, quando partiste,E frouxo o seu calor já sinto agora!
- Sim demorei-me a divagar sem rumo,Perdi-me nestas matas intrincadas,Reaviei-me e tornei ; mas urge o tempo;Convém partir, e já!- Que novos malesNos resta de sofrer? - que novas dores,Que outro fado pior Tupã nos guarda?- As setas da aflição já se esgotaram,Nem para novo golpe espaço intactoEm nossos corpos resta.- Mas tu tremes!- Talvez do afã da caça....- Oh filho caro!Um quê misterioso aqui me fala,Aqui no coração ; piedosa fraudeSerá por certo, que não mentes nunca!Não conheces temor, e agora temes?Vejo e sei : é Tupã que nos aflige,E contra o seu querer não valem brios.Partamos!... -E com mão trêmula, incertaProcura o filho, tacteando as trevasDa sua noite lúgubre e medonha.Sentindo o acre odor das frescas tintas,Uma idéia fatal ocorreu-lhe à mente...Do filho os membros gélidos apalpa,E a dolorosa maciez das plumasConhece estremecendo : - foge, volta,Encontra sob as mãos o duro crânio,Despido então do natural ornato!...Recua aflito e pávido, cobrindoÀs mãos ambas os olhos fulminados,Como que teme ainda o triste velhoDe ver, não mais cruel, porém mais clara,Daquele exício grande a imagem vivaAnte os olhos do corpo afigurada.Não era que a verdade conhecesseInteira e tão cruel qual tinha sido ;Mas que funesto azar correra o filho,Ele o via ; ele o tinha ali presente;E era de repetir-se a cada instante.A dor passada, a previsão futuraE o presente tão negro, ali os tinha ;Ali no coração se concentrava,Era num ponto só, mas era a morte!
- Tu prisioneiro, tu?- Vós o dissestes.- Dos índios?- Sim.- De que nação?- Timbiras.- E a muçurana funeral rompeste,Dos falsos manitôs quebrastes maça...- Nada fiz... aqui estou.- Nada! -Emudecem;Curto instante depois prossegue o velho:- Tu és valente, bem o sei; confessa,Fizeste-o, certo, ou já não fôras vivo!
- Nada fiz; mas souberam da existênciaDe um pobre velho, que em mim só vivia....- E depois?...- Eis-me aqui.- Fica essa taba?- Na direção do sol, quando transmonta.
- Longe?- Não muito.- Tens razão: partamos.- E quereis ir?..- Na direção do acaso.
VII
"Por amor de um triste velho,
Que ao termo fatal já chega,
Vós, guerreiros, concedestes
A vida a um prisioneiro.
Ação tão nobre vos honra,
Nem tão alta cortesia
Vi eu jamais praticada
Entre os Tupis, - e mais foram
Senhores em gentileza.
"Eu porém nunca vencido,
Nem nos combates por armas,
Nem por nobreza nos atos ;
Aqui venho, e o filho trago.
Vós o dizeis prisioneiro,
Seja assim como dizeis ;
Mandai vir a lenha, o fogo,
A maça do sacrifício
E a muçurana ligeira :
Em tudo o rito se cumpra!
E quando eu for só na terra,
Certo acharei entre os vossos,
Que tão gentis se revelam,
Alguém que meus passos guie ;
Alguém, que vendo o meu peito
Coberto de cicatrizes,
Tomando a vez de meu filho,
De haver-me por pai se ufane!"
Mas o chefe dos Timbiras,Os sobrolhos encrespando,Ao velho Tupi guerreiroResponde com tôrvo acento:
- Nada farei do que dizes :É teu filho imbele e fraco !Aviltaria o triunfoDa mais guerreira das tribosDerramar seu ignóbil sangue :Ele chorou de cobarde ;Nós outros, fortes Timbiras,Só de heróis fazemos pasto. -
Do velho Tupi guerreiroA surda voz na gargantaFaz ouvir uns sons confusos,Como os rugidos de um tigre,Que pouco a pouco se assanha !
VIII
"Tu choraste em presença da morte ?Na presença de estranhos choraste ?Não descende o cobarde do forte ;Pois choraste, meu filho não és !Possas tu, descendente malditoDe uma tribo de nobres guerreiros,Implorando cruéis forasteiros,Seres presa de via Aimorés.
"Possas tu, isolado na terra,Sem arrimo e sem pátria vagando,Rejeitado da morte na guerra,Rejeitado dos homens na paz,Ser das gentes o espectro execrado ;Não encontres amor nas mulheres,Teus amigos, se amigos tiveres,Tenham alma inconstante e falaz !
"Não encontres doçura no dia,Nem as côres da aurora te ameiguem,E entre as larvas da noite sombriaNunca possas descanso gozar :Não encontres um tronco, uma pedra,Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,Padecendo os maiores tormentos,Onde possas a fronte pousar.
"Que a teus passos a relva se torre ;Murchem prados, a flor desfaleça,E o regato que límpido corre,Mais te acenda o vesano furor ;Suas águas depressa se tornem,Ao contacto dos lábios sedentos,Lago impuro de vermes nojentos,Donde fujas com asco e terror !
"Sempre o céu, como um teto incendido,Creste e punja teus membros malditosE oceano de pó denegridoSeja a terra ao ignavo tupi !Miserável, faminto, sedento,Manitôs lhe não falem nos sonhos,E do horror os espectros medonhosTraga sempre o cobarde após si.
"Um amigo não tenhas piedosoQue o teu corpo na terra embalsame,Pondo em vaso d’argila cuidosoArco e frecha e tacape a teus pés !Sê maldito, e sozinho na terra;Pois que a tanta vileza chegaste,Que em presença da morte choraste,Tu, cobarde, meu filho não és."
IX
Isto dizendo, o miserando velhoA quem Tupã tamanha dor, tal fadoJá nos confins da vida reservada,Vai com trêmulo pé, com as mãos já friasDa sua noite escura as densas trevasPalpando. - Alarma ! alarma ! - O velho pára !O grito que escutou é voz do filho,Voz de guerra que ouviu já tantas vezesNoutra quadra melhor. - Alarma ! alarma !
- Esse momento só vale a pagar-lheOs tão compridos trances, as angústias,Que o frio coração lhe atormentaramDe guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.Êle que em tanta dor se contivera,Tomado pelo súbito contraste,Desfaz-se agora em pranto copioso,Que o exaurido coração remoça.
A taba se alborota, os golpes descem,Gritos, imprecações profundas soam,Emaranhada a multidão braveja,Revolve-se, enovela-se confusa,E mais revolta em mor furor se acende.E os sons dos golpes que incessantes fervem,Vozes, gemidos, estertor de morteVão longe pelas ermas serraniasDa humana tempestade propagandoQuantas vagas de povo enfurecidoContra um rochedo vivo se quebravam.
Era êle, o Tupi; nem fôra justoQue a fama dos Tupis - o nome, a glória,Aturado labor de tantos anos,Derradeiro brasão da raça extinta,De um jacto e por um só se aniquilasse.
- Basta! Clama o chefe dos Timbiras,- Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,E para o sacrifício é mister forças. -
O guerreiro parou, caiu nos braçosDo velho pai, que o cinge contra o peito,Com lágrimas de júbilo bradando:"Este, sim, que é meu filho muito amado!"E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,"Corram livres as lágrimas que choro,"Estas lágrimas, sim, que não desonram."
X
Um velho Timbira, coberto de glória,Guardou a memóriaDo moço guerreiro, do velho Tupi!E à noite, nas tabas, se alguém duvidavaDo que êle contava,Dizia prudente: - "Meninos, eu vi!
"Eu vi o brioso no largo terreiroCantar prisioneiroSeu canto de morte, que nunca esqueci:Valente, como era, chorou sem ter pejo;Parece que o vejo,Que o tenho nest’hora diante de mi.
"Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo!Pois não, era um bravo;Valente e brioso, como ele, não vi!E à fé que vos digo: parece-me encantoQue quem chorou tanto,Tivesse a coragem que tinha o Tupi!"
Assim o Timbira, coberto de glória,Guardava a memóriaDo moço guerreiro, do velho Tupi.E à noite nas tabas, se alguém duvidavaDo que ele contava,Tornava prudente: "Meninos, eu vi!".
FIM
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirrapapé
ResponderExcluirpenso que daqui amolarei a gordura, para este gládio misterioso, que não espeta daqui pra lá.
sorte a minha ter sido rápido o bastante pra reter na memória a variação que você diligentemente ceifou. rs.
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